Os teólogos do
Pacto ensinam que a promessa que Deus fez a Abraão — de que pessoas de “todas as famílias da terra” seriam
abençoadas como “filhos” de Deus
mediante a fé (Gn 12:1-3; 13:14-16; 15:5-6) — estaria se cumprindo hoje. Por
conseguinte, os cristãos seriam israelitas espirituais. Os versículos que usam
do Novo Testamento para supostamente provar isso são apresentados nos próximos
tópicos.
“Sabei, pois, que os que são da fé são
filhos de Abraão. Ora, tendo a Escritura previsto que Deus havia de justificar
pela fé os gentios, anunciou primeiro o evangelho a Abraão, dizendo: Todas as
nações serão benditas em ti. De sorte que os que são da fé são benditos com o
crente Abraão.” Gálatas
3:7-9, 29
Segundo entendemos,
nas Escrituras os cristãos nunca são chamados de “filhos” de Abraão. Aqueles de quem Paulo está falando nesta
passagem — que são abençoados “da fé”
— são crentes descendentes de Abraão (Jo 8:39) e gentios crentes no reino
milenial de Cristo. Dizer que Gênesis 12:1-3; 13:14-16; 15:5-6 se referem a
cristãos é o mesmo que dizer que a Igreja é mencionada no Antigo Testamento, o
que as Escrituras (e os Dispensacionalistas) negam categoricamente. “Todas as famílias da terra” (Gn 12:3) e
“os gentios” (Gl 3:8) são gentios que
serão abençoados com Israel no futuro. Esses não poderiam ser a Igreja, pois
estão designados como “famílias da terra”
e a Igreja, como já observamos, é uma companhia especial de crentes cuja origem
e destino são celestiais. Além disso, a expressão “...são benditos com o crente Abraão” (Gl 3:9) demonstra que está
falando de uma bênção terrena, pois as bênçãos que foram prometidas a Abraão e
sua família eram terrenas.
Paulo corrigiu
esse equívoco dos Gálatas a respeito de quem seria a “semente” ou “descendência”
de Abraão em Gênesis 13:15 e 22:18, mostrando que não se trata dos descendentes
naturais de Abraão, mas do próprio “Cristo”
(Gl 3:16). Ele toma o cuidado de indica que, quando a promessa foi feita, era
para a “semente” (singular) de
Abraão, não para suas “sementes”
(plural). A ausência da letra “s” muda totalmente o significado. Portanto,
Gênesis 13:15 e 22:18 se referem ao Senhor Jesus Cristo que viria da
posteridade de Abraão. Ele é um descendente direto de Abraão (Mt 1:1; Lc 3:34).
Não saberíamos disso lendo o relato em Gênesis, mas o Espírito de Deus nos mostrou
isso aqui em Gálatas 3:16. O ponto a ser observado na passagem é que Deus
prometeu abençoar “todas as nações”
ou “famílias da terra” (judeus e
gentios igualmente) “da fé”, ou sobre
o princípio da fé. É a única maneira de pessoas serem abençoadas, sejam
israelitas, gentios ou cristãos. Todavia, o povo em particular ao qual o
apóstolo está se referindo ao ilustrar seu argumento é aquele formado pelos
israelitas e gentios redimidos que entrarão no reino milenial.
Paulo segue
falando do lugar especial de bênção que os cristãos têm (como parte da Igreja)
na última porção de Gálatas 3, em contraste com Israel e os santos do milênio.
O versículo 26 declara que os cristãos são “filhos
de Deus pela fé em Cristo Jesus”. A distinção entre crentes judeus e
gentios nessa nova posição desaparece, o que já não é o caso com os santos
terrenos no Milênio. Na Igreja de Deus “não
há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque
todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gl 3:28). Como já observado em um
capítulo anterior, a expressão “em Cristo”
denota a posição do cristão diante de Deus no Cristo ressuscitado. Ela
significa literalmente ocupar o lugar de Cristo diante de Deus. Mas existe algo
mais, e isto pelo fato de o cristão fazer parte dessa raça de homens da nova
criação sob Cristo, e é o que o versículo 29 declara, ou seja, que o crente
também é “de Cristo”. Isto significa
que na nova criação somos da mesma substância de Cristo. Somos “todos de um” juntamente com Ele, sendo
do mesmo tipo que ele, e assim somos Seus “irmãos”
(Hb 2:11-12; Rm 8:29). O ponto que Paulo quer frisar aqui é que, uma vez que
Cristo é a “semente” ou “descendência” de Abraão (Gl 3:16), e
nós estamos “em Cristo” e somos “de Cristo”, somos também “semente de Abraão” em virtude de nossa vívida
união com Cristo. Somos semente ou descendência de Abraão por meio de nossa
conexão com Cristo. É apenas neste sentido que Abraão poderia ser visto como “pai de todos os que creem” (Rm 4:11).
Portanto, os
judeus e gentios que irão crer e herdar a terra são “filhos” de Abraão, mas os cristãos são “semente” ou “descendência”
de Abraão. Os judeus e gentios terrenos “são
benditos com o crente Abraão” (Gl 3:9), mas os cristãos são abençoados “com todas as bênçãos espirituais nos
lugares celestiais em Cristo” (Ef 1:3). Como já observado, estas são duas
esferas totalmente diferentes de bênção — uma terrenal e a outra celestial.
Traduzido de “A Dispensational or a Covenantal Interpretation of Scripture - Which is the Truth?”, por Bruce Anstey publicado por Christian Truth Publishing. Traduzido por Mario Persona.