Este capítulo
trata do caso de um assassinato de autoria desconhecida na terra (Dt 21:1-9).
Em situações assim o princípio da proximidade devia ser aplicado pelos anciãos
de Israel para determinar qual cidade seria responsável em cuidar do assunto.
Ao medirem “a distância até as cidades
que estiverem em redor do morto”, a cidade mais próxima ficaria responsável.
Os anciãos daquela cidade eram convocados a cuidar da provisão que Deus fazia
para casos assim, e dessa forma se inocentarem do assassinato.
O homem morto é
uma figura do assassinato de Cristo pelos judeus (At 3:14-15; 1 Ts 2:15). Neste
caso a cidade tida por responsável é Jerusalém, pois Cristo foi crucificado “próximo da cidade” (Jo 19:20; Hb
13:12). Uma “novilha... que não tenha
trabalhado nem tenha puxado com o jugo” devia ser morta em sacrifício para
tirar “o sangue inocente” do meio
deles (Dt 21:3-4, 9). Este é outra figura da morte de Cristo. Portanto, existem
duas figuras da morte de Cristo aqui:
- “Um morto” tem a ver com a parte do homem na morte de Cristo — assassinato (Dt 21:1-2).
- “A novilha degolada” tem a ver com a parte de Deus da morte de Cristo — a qual foi necessária para fazer expiação pelo pecado a fim de que os pecadores pudessem ser salvos (Dt 21:6).
Pelo fato de a
novilha não ter trabalhado e nem puxado jugo ela é uma figura de Cristo que
nunca esteve sob a influência ou controle do homem em nenhum aspecto de sua
vida. A novilha precisava ser sacrificada em um “vale áspero” (Dt 21:4 - Almeida Corrigida) onde havia “águas correntes” (Almeida Atualizada).
Isso é uma figura da graça de Deus que corre através deste mundo áspero e sobrecarregado
de pecado. Os anciãos podiam alegar ignorância do mal com base no sacrifício da
novilha. Eles podiam lavar “as suas mãos
sobre a novilha degolada no vale” com a água do regato, e assim “o sangue” do homem assassinado lhes
seria expiado. No caso específico dos judeus isso era exatamente o que eles não
poderiam fazer. Eles não podiam se valer da provisão que Deus tinha feito para
eles em graça na morte de Cristo. Isso foi omitido no caso deles na pregação
dos apóstolos, mas a massa da nação rejeitou aquele testemunho (At 2:38; 3:19;
5:30-31).
Em Deuteronômio 21:10-14
o assunto do capítulo muda repentinamente. Supõe-se que uma batalha tivesse
sido lutada contra os “inimigos” de
Israel e uma vitória conquistada. Essa vitória é uma terceira figura da morte
de Cristo neste capítulo. Ela tipifica Sua vitória sobre o pecado, Satanás e a
morte através de Sua morte e ressurreição (Hb 2:14-15). “Subindo ao alto, levou cativo o cativeiro” (Ef 4:8). Assim o
Senhor colocou os crentes em sujeição a Si mesmo, os mesmos que antes eram
escravos de Satanás (Lc 11:21-22).
Dentre os
cativos havia “uma mulher formosa”
que alguém poderia desejar tomar “por
mulher”. Essa mulher gentia é uma figura da Igreja, que nos é apresentada
aqui após Israel ter sido colocado de lado. A mulher devia rapar ou cortar tudo
o que indicasse suas conexões passadas com a idolatria etc., de modo que
ficasse pronta para seu novo marido. Não era algo que alguém fizesse por ela,
mas ela deveria fazê-lo por si mesma. Isto nos fala do juízo próprio que os
cristãos devem exercitar quando são salvos. Tudo o que é pecaminoso e contaminante
que existia anteriormente em nossa vida deve ser julgado e eliminado (2 Co
7:1). Ela devia despir “o vestido do seu
cativeiro” e chorar “a seu pai e a
sua mãe um mês inteiro”, antes de poder ser tomada por esposa. Isso nos
fala em figura de todo o período de tempo desde quando a Igreja foi chamada
pelo evangelho até o dia em que for levada para o lar na glória, por ocasião da
vinda de Cristo no Arrebatamento.
A narrativa
acrescenta que pode existir uma possibilidade de a mulher não agradar a seu
marido e ele a deixar (Dt 21:14). Isso sugere que a porção apóstata da
cristandade será abandonada pelo Senhor e eventualmente cuspida de Sua boca (Ap
3:16).
Deuteronômio
21:15-17 continua o assunto, falando agora de um homem com “duas mulheres, uma a quem ama e outra a quem despreza” . Estas
correspondem à Igreja (a amada) e a Israel (a desprezada) no tempo presente.
Mas quando chegar a hora de receber a herança, “ao filho da desprezada reconhecerá por primogênito, dando-lhe dobrada
porção de tudo quanto tiver”. Isso nos fala da bênção de Deus sobre o remanescente
de Israel em um dia vindouro quando Cristo retornar para tomar posse da herança.
Naquele dia o Senhor reconhecerá “o
direito da primogenitura” em Israel, e introduzirá na bênção um
remanescente da nação (Êx 4:22).
Traduzido de “A Dispensational or a Covenantal Interpretation of Scripture - Which is the Truth?”, por Bruce Anstey publicado por Christian Truth Publishing. Traduzido por Mario Persona.