O capítulo
apresenta as coisas predominantemente do lado de Deus na cruz. Abraão levou seu
filho Isaque a um lugar no “Monte Moriá”
onde tentou oferecê-lo como sacrifício. Isto é um tipo do grande sacrifício de
Cristo realizado no Calvário (Ef 5:2; Hb 7:27; 9:26; 10:10, 12). Embora Abraão
não tenha realmente matado Isaque, o Novo Testamento enxerga este incidente na
forma de um tipo ou figura, como se Abraão tivesse consumado seu ato, e Deus o
tivesse ressuscitado de entre os mortos (Hb 11:17-19). O lugar onde Abraão fez
o sacrifício era o mesmo onde Cristo viria a morrer muitos anos depois! O
Calvário fica no monte Moriá, onde a cidade de Jerusalém foi construída (2 Cr
3:1; Hb 13:12). Trata-se do mesmo local
onde outro significativo sacrifício foi feito por Davi, o qual também tipifica
o grande sacrifício de Cristo (1 Cr 21:18-30; 2 Cr 3:1). Isso demonstra que
Deus tinha aquele local especial diante de Si muito tempo antes de Seu Filho
morrer ali.
No fato de
Abraão e Isaque irem “ambos juntos”
ao “lugar” (Gn 22:3, 4, 9, 14; Lc
23:33) temos uma figura do Pai e do Filho indo juntos ao Calvário onde Cristo
viria a morrer. Ao contrário de Isaque, que não sabia onde estava o carneiro
para o holocausto (Gn 22:7-8), o Senhor Jesus sabia o que lhe esperava em
Jerusalém (Lc 9:31; 12:50). A menção do “fogo”
e do “cutelo” indica dois aspectos da
cruz (At 2:23). O “cutelo” fala da
morte de Cristo na mão de ímpios (At 3:14-15); o “fogo” (uma figura do juízo de Deus) fala do fato de Cristo ter
levado sobre o Seu próprio corpo no madeiro os nossos pecados sob o juízo de
Deus.
Existem três
expressões relacionadas à “lenha” que
Isaque carregava para o lugar do sacrifício. A madeira é extraída das árvores, e
árvores aparecem ao longo das Escrituras como representação da humanidade. Primeiro, Abraão “cortou lenha” (Gn 22:3). Isto nos fala do fato de um corpo humano
ter sido “preparado” por Deus para o
Senhor Jesus a fim de Ele vir ao mundo e ser um sacrifício (Hb 10:5). Segundo, Abraão tomou “a lenha do holocausto, e pô-la sobre Isaque
seu filho” (Gn 22:6). Isto nos fala da encarnação de Cristo. Houve um
momento na história deste mundo quando Cristo tomou a humanidade em Sua Pessoa
e Se tornou Homem (Lc 1:31-35). Terceiro,
quando Abraão e Isaque chegaram ao lugar que Deus havia indicado, a lenha foi
tirada de Isaque e colocada sobre “o
altar”. Em figura isso nos fala do momento em que Cristo entregou à morte a
Sua vida como Homem para a glória de Deus (Ef 5:2).
Não lemos de qualquer
objeção ou resistência da parte de Isaque; a narrativa nada diz a respeito.
Esse silêncio indica de forma maravilhosa a perfeita submissão do Senhor Jesus
à vontade de Seu Pai. Ele disse: “Não
seja como eu quero, mas como tu queres” (Mt 26:39). E também, “não beberei eu o cálice que o Pai me deu?”
(Jo 18:11).
Neste ponto o
tipo ou figura falha, como costuma acontecer com todos os tipos e figuras, no
sentido de que aqui Deus proveu um substituto para Isaque na forma de “um carneiro detrás dele, travado pelos seus
chifres, num mato” (Gn 22:10-14), já que não havia ninguém que poderia
assumir o lugar de Cristo ao fazer a expiação por nossas vidas. O carneiro é um
tipo de Cristo. Ser “travado pelos seus
chifres” nos fala da devoção de Cristo à vontade de Deus que O levou à
morte. Nas Escrituras os “chifres”
nos falam de força — a força de Seu amor a Deus (João 14:31) e a força de Seu
amor por nós (João 13:1). Foi esse grande amor que manteve Jesus na cruz.
Abraão chamou aquele lugar “Jeová-Jiré”,
que significa “o Senhor proverá”.
Isto ilustra o fato de que a cruz é o lugar onde Deus fez provisão para os
homens serem salvos pela fé. É significativo que após o carneiro ter sido
oferecido em sacrifício já não encontramos Isaque no texto até ele ser visto
unido com sua noiva (Gn 24:62-67). Portanto, o tipo ou figura indica que ao
morrer Cristo seria removido da vista de todos neste mundo, mas um dia Ele
seria, em ressurreição, publicamente ligado à Igreja, Seu corpo e noiva.
Traduzido de “A Dispensational or a Covenantal Interpretation of Scripture - Which is the Truth?”, por Bruce Anstey publicado por Christian Truth Publishing. Traduzido por Mario Persona.