No capítulo 22 Isaque desaparece da narrativa, mas neste capítulo descobrimos que ele voltou de
Moriá para a casa de Abraão. Isto apontaria para a ressurreição e ascensão de
Cristo à glória da casa de Seu Pai, onde Ele está no presente momento sentado à
destra de Seu Pai (Jo 14:2; At 2:32-33).
O assunto deste
capítulo é assegurar uma esposa para Isaque. O que não é usual a respeito disso
é que Isaque não deveria ir e obter uma esposa para si, mas isso seria feito
pelo “servo” de Abraão. Isto é pleno
de significado em um contexto dispensacional. Este homem sem nome que foi
enviado por Abraão para conseguir Rebeca é um tipo do Espírito Santo. O fato de
o servo de Abraão não ter nome está em conformidade com muitos outros tipos do
Espírito Santo nas Escrituras. Muitas vezes Ele é visto como uma Pessoa sem
nome trabalhando nos bastidores (Rt 2:6; Lc 10:35; 14:21-24; 22:11 etc.). Trata-se
de uma descrição adequada ao papel do Espírito nesta dispensação. Ele não atrai
atenção para Si, mas emprega Suas energias em nos levar a Cristo (Jo 16:13-14).
Os primeiros
nove versículos do capítulo 24 de Gênesis tipificam as Pessoas divinas reunidas
para deliberarem o chamado da Igreja. Como já vimos no capítulo anterior sobre o
ensino de Paulo, esse chamado é um “mistério”
que esteve “escondido em Deus”, e que
não foi revelado até que o Espírito viesse e o revelasse aos apóstolos (Rm
16:25; Ef 3:3-5, 9; Cl 1:26). A jornada do servo à Mesopotâmia representa a
vinda do Espírito (Gn 24:10-14). A conversa inicial do servo com Rebeca
representa a obra do Espírito nas almas (Gn 24:15-17). O presente dado a
Rebeca, um “pendente” ou brinco para
suas orelha e “pulseiras” para suas
mãos, representa o anseio do Espírito em conquistar os ouvidos e as mãos do
crente para Deus (1 Co 6:20). A partir do momento em que o servo conquistou a
atenção da família de Betuel ele passou a contar uma história maravilhosa, a
qual contém muitos elementos do evangelho da graça de Deus (Gn 24:33-49). Ele
lhes fez saber que seu senhor era uma pessoa muito rica e que havia legado tudo
o que possuía ao seu único filho (compare com João 3:35). O servo também
explicou que havia sido enviado por Abraão para conseguir uma esposa para seu
filho (compare com Efésios 5:25-32), e que o filho de Abraão iria compartilhar
com ela as riquezas que seu pai lhe havia dado (compare com Efésios 1:11;
Romanos 8:17, 32). Ele também explicou como tinha sido dirigido por Deus para
encontrar Rebeca. Isso nos fala dos inescrutáveis caminhos de Deus em
encontrar, ao longo do tempo, aqueles que foram eleitos antes da fundação do
mundo (Rm 11:33-36; Ef 1:4).
Quando ficou
acertado que Rebeca seria a esposa de Isaque, o servo apresentou “jóias de prata e jóias de ouro, e vestidos”
e os deu a Rebeca para confirmar o que fora acertado (Gn 24:50-53). Isso
representaria o selo do Espírito (Ef 1:13), pois estas três coisas nos falam de
redenção, justiça divina e de uma adequada condição moral para Cristo, e são
coisas que passam a pertencer aos cristãos quando são salvos. O servo “também deu coisas preciosas” ao irmão e
mãe de Rebeca. Isso nos fala das muitas bênçãos visíveis que todos na
cristandade podem desfrutar em razão de o Espírito Santo estar na casa de Deus.
Depois disso o servo e os da família de Betuel “comeram e beberam” (Gn 24:54). Isso nos fala da “comunhão do Espírito” (Fp 2:1) e da “comunhão do Espírito Santo” (2 Co
13-14). Logo no dia seguinte o servo quis iniciar sua jornada de volta à casa
de Abraão levando Rebeca consigo. Isso mostra o grande desejo do Espírito de
levar os cristãos a Cristo em glória. Trata-se de uma jornada moral e
espiritual envolvendo o distanciar do coração e alma do crente deste mundo, aproximando
suas afeições de Cristo.
A mãe e o irmão
de Rebeca queriam que ela ficasse com eles por um ano inteiro, e só depois
partissem com o homem (Gn 24:54-55). Isso nos fala da interferência da natureza
no chamado de Deus. O servo disse: “Não
me detenhais”, o que demonstra que qualquer atividade neste sentido
entristece e extingue o Espírito Santo (Ef 4:30; 1 Ts 5:19). Rebeca concorda em
partir com o servo para ser a esposa do homem que ela nunca havia encontrado.
(Compare com 1 Pedro 1:8). É com base em suas palavras — “Irei” — que o servo parte imediatamente e leva Rebeca a Isaque (Gn
24:57-61). Ao longo do caminho Rebeca podia desfrutar das jóias que havia
recebido como “penhor” daquilo que a
esperava quando chegasse à casa de Isaque (Ef 1:14; 2 Co 1:22).
Os “camelos” foram fornecidos pelo servo
para carregá-la. Isso nos fala das necessidades naturais que temos na vida
sendo atendidas pelas misericórdias de Deus — coisas materiais que precisaremos
para nossa vida no deserto. Isaque aguardava por sua noiva (Gn 24:62-63), e
Cristo também aguarda pacientemente para ter Sua Igreja consigo no lar (2 Ts
3:5). Chegou o momento quando Isaque “levantou
os seus olhos” (Gn 24:63) e “Rebeca
também levantou seus olhos” (Gn 24:63), e seus olhares se encontraram pela
primeira vez! O resultado disso foi que Rebeca “desceu do camelo”. Nada é dito de seus pés tocarem o solo, apesar
de sabermos que foi assim. Isso nos fala do chamado do Arrebatamento, que é um
chamado elevado. H. E. Hayhoe costumava dizer: “Aquele é o momento para o qual todos os outros momentos foram feitos”.
Traduzido de “A Dispensational or a Covenantal Interpretation of Scripture - Which is the Truth?”, por Bruce Anstey publicado por Christian Truth Publishing. Traduzido por Mario Persona.