Esta passagem
tem a ver com o homicida e as cidades de refúgio. Todavia, ela não começa
falando deles, mas começa no versículo 15 do capítulo 18 com a promessa de Deus
levantar “um Profeta” no meio da
nação de Israel (Dt 18:15-22). Esse Profeta é o Senhor Jesus Cristo (Lc 7:16;
Jo 1:21; 6:14; At 3:23; 7:37). É dada grande ênfase às “palavras” de Deus como estando “em
Sua boca” (Jo 7:16-17; 8:47; 17:8) e na necessidade que o povo tem de
recebê-las.
Então, no
capítulo 19, o assunto muda: somos apresentados à provisão que Deus fez para o
Seu povo no caso de um homem matar acidentalmente outro. Isso foi dado a Israel
tendo como figura do homicídio de Cristo. Havia “três cidades” a oeste do Rio Jordão (Dt 19:2) e “três cidades” a leste (Dt 19:3),
indicadas como lugares de refúgio para onde um homicida poderia fugir e ficar
protegido. Essas cidades são uma figura da provisão que Deus fez para os judeus
que mataram a Cristo. As seis cidades de refúgio são uma figura dos seis
aspectos da segurança que o evangelho anuncia em Cristo. Cada cidade nos fala
de um diferente aspecto da bênção que temos em Cristo.
Uma estrada bem definida,
“o caminho” (Dt 19:3), devia ser preparado para cada cidade a fim de
que o homicida pudesse alcançá-la em segurança. Além disso, cada cidade ficava
situada numa colina para que o lugar de refúgio pudesse ser facilmente visto
por todos (Js 20:7-8). O fato de o homicida ter de “fugir” (Js 20:3) indica que havia um elemento de urgência
envolvido nisso. Se um homicida atrasasse sua fuga, “o vingador do sangue” (Dt 19:6) poderia alcançá-lo. Isso aponta
para o fato de que aqueles que entendessem sua culpa na morte de Cristo (isto
é, os judeus arrependidos) deviam imediatamente se valer da salvação disponível
no Cristo ressuscitado antes que o julgamento caísse sobre aquela nação culpada
(Hb 2:3). Nos primeiros capítulos do Livro de Atos, Pedro e os outros apóstolos
indicavam ao povo judeu o caminho da salvação como um antítipo das cidades de
refúgio — Cristo na glória (At 2-7). Um remanescente de judeus creu na mensagem
e fugiu refugiar-se em Cristo, que
havia entrado nos céus como o “precursor”
(At 2:21, 41; 4:4; 5:14; Hb 6:19-20).
Havia apenas uma
condição que o homicida precisava cumprir a fim de garantir seu refúgio — ele
precisava ter matado o outro “por engano”
(Dt 19:4). Na lei não havia misericórdia para aqueles que pecassem
intencionalmente (Dt 19:11-13; Nm 15:30-31; Hb 10:28). Isso cria um enorme
problema para os judeus, pois eles mataram a Cristo sabendo exatamente quem Ele
era. Eles disseram “Este é o herdeiro;
vinde, matemo-lo.” (Mt 21:37-39). Eles até chegaram ao ponto de lançarem
sobre si mesmos uma maldição assumindo completa responsabilidade por Sua morte,
quando disseram: “O seu sangue caia sobre
nós e sobre nossos filhos.” (Mt 27:25). Todavia, nas instruções da lei
concernentes aos votos ou promessas, havia uma provisão para a anulação e votos
feitos de modo inconsequente (Nm 30). Uma mulher que fizesse um voto poderia
ter seu marido ou pai anulando seu voto, se este o fizesse no dia em que
ouvisse do voto. Uma mulher nas Escrituras frequentemente tipifica o povo do
Senhor — seja Israel (Ez 16), seja a Igreja (Ef 5:31-32). Neste caso, os judeus
estavam exteriormente nesse tipo de relacionamento com o Senhor (apesar de alheios
a Ele naquela ocasião), e Ele, portanto, tinha o poder de anular o voto deles
no dia em que soube de seu voto. O Senhor fez exatamente isso quando foi
pregado na cruz, ao dizer: “Pai,
perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.” (Lc 23:34). Naquela declaração
o Senhor transformou o arrogante pecado deles em um pecado de ignorância, e
isso abriu a porta para que eles pudessem ser perdoados (Lv 4:2; Nm 30:8).
Pedro mencionou
isso em sua pregação aos judeus, quando disse: “Irmãos, eu sei que o fizestes por ignorância, como também os vossos
príncipes.” (At 3:17). Ele prosseguiu dizendo aos judeus que seus pecados
seriam “apagados” se eles se
arrependessem e fossem a Cristo pela fé (At 3:19). Em suma, ele estava
indicando a eles o antítipo das cidades de refúgio. A porta para a segurança
tinha sido escancarada para aquela nação culpada. Mas ainda assim é bem solene
vermos que havia um preço a ser pago pelo homem que anulasse o voto da mulher,
pois diz que “ele levará a iniquidade
dela” (Nm 30:15). Ela podia ser perdoada, porém ele precisaria pagar o
preço desse perdão. Isso aponta em figura para os sofrimentos expiatórios de
Cristo, que pagou o preço para que os judeus fossem perdoados. As Escrituras
dizem: “O Senhor fez cair sobre ele a iniquidade
de nós todos... pela transgressão do meu povo ele foi atingido.” (Is 53:6,
8; 1 Pe 2:24).
O significado de
cada cidade indica algum aspecto de bênção espiritual que o crente tem em
Cristo:
- “Quedes” ou “Quedesh” significa “santidade”. O crente é visto como tendo sido lavado e feito santo aos olhos de Deus (Ef 1:4; Cl 1:22).
- “Siquém” significa “ombro”. Isto nos fala da eterna segurança do crente em Cristo (Jo 10:28-29).
- “Hebrom” sinifica “comunhão”. Isto nos fala do relacionamento e comunhão com Deus nos quais o crente é introduzido (1 Jo 1:3-4).
- “Bezer” significa “baluarte”. Isto nos fala da proteção que o crente possui na armadura de Deus, pela qual fica protegido dos ataques espirituais do inimigo (Ef 6:10-17).
- “Ramote” significa “lugares elevados”. Isto nos fala de nossa posição de aceitação em Cristo nas alturas (E 2:6).
- “Golã” significa “regozijo”. Isto nos fala do gozo e alegria que o crente tem em Cristo (1 Pe 1:8).
Traduzido de “A Dispensational or a Covenantal Interpretation of Scripture - Which is the Truth?”, por Bruce Anstey publicado por Christian Truth Publishing. Traduzido por Mario Persona.