No capítulo 15 do
Evangelho de Lucas vemos outro esboço ou resumo dispensacional. O capítulo é
uma parábola com três partes. A primeira parte ilustra o ministério do Senhor
aos judeus por ocasião de Seu primeiro advento (Lc 15:3-7). Por ter sido
rejeitado pela nação o Senhor deixou “no
deserto as noventa e nove” (Lc 15:4) e foi atrás das “ovelhas perdidas” (Mt 15:24). O fato de ter deixado a maior parte
da nação exposta aos seus inimigos foi um ato de juízo por O terem rejeitado.
Depois de encontrar a ovelha perdida, o Senhor foi para Sua casa e se alegrou
com Seus “amigos e vizinhos” (Lc
15:5-6). Isto representa o Senhor voltando para o lar no céu (após a cruz) e Seu
regozijo juntamente com os que estavam ali (os anjos e os santos do Antigo
Testamento), pois um remanescente de crentes dentre os judeus havia sido salvo
por graça por intermédio de Seu ministério. A grande massa dos judeus “no deserto”, sem proteção divina,
acabou eventualmente destruída pelos romanos no ano 70 D. C. Assim a nação foi
colocada de lado.
Na segunda parte
da parábola vemos uma “mulher” que
mora numa “casa” onde não há homem (Lc
15:8-10). Ela é uma figura daqueles que compõem a Igreja, e moram hoje na casa
de Deus numa época em que o Senhor está ausente. O fato de esta parte da
parábola nos apresentar uma mulher imediatamente após o Bom Pastor ter partido
para o lar no céu, rejeitado pela grande massa dos judeus, indica uma mudança
dispensacional que ocorreu no tempo presente nas tratativas de Deus.
A mulher recebeu a
responsabilidade de manter a casa enquanto seu Senhor está fora. Isto pode ser
visto pelo fato de ela ter recebido “dez
dracmas” ou moedas de prata. (Dez é o número que nas Escrituras denota
responsabilidade). Considerando que a prata representa a redenção, isto indica
que a divulgação do evangelho foi entregue nas mãos dos cristãos (Lc 24:47). O
fato de a mulher ter perdido uma moeda de prata na casa indica que ela falhou
em sua responsabilidade. Além disso, considerando que a casa precise ser varrida,
isto nos mostra que ela tem sido uma péssima dona de casa. Estas coisas sugerem
a ruína do testemunho cristão (2 Tm 2:20). O fato de existirem almas perdidas
na casa de Deus nos dias de hoje é certamente sinal de ruína! Todavia, a mulher
partiu para a ação, com exercício de coração e energia, a fim de encontrar a
moeda perdida. Isto talvez represente um reavivamento do testemunho do
evangelho nos últimos séculos da história da Igreja. O acender da “candeia” indica que isso iria ocorrer
durante a noite da ausência do Senhor, quando as trevas prevaleceriam em toda a
casa.
A terceira parte
da parábola mostra um pai que tinha “dois
filhos” (Lc 15:11-32). Um era pródigo e, por sua própria culpa, acabou em “uma terra longínqua”. Ele é uma figura
dos judeus rebeldes que não quiseram fazer a vontade de Deus e, como
consequência, acabaram dispersos por toda a terra, distantes da terra de
Israel.
No país distante o
filho errante enfrentou “uma grande fome”.
Isto nos fala dos sofrimentos e disciplinas impostas por Deus para humilhar os
judeus e produzir arrependimento neles. Mas, ao invés de o filho voltar ao seu
pai, ele persistiu em seu caminho de rebelião no país distante. Para aliviar a
pressão imposta pela fome “chegou-se a um
dos cidadãos daquela terra”. Isto representaria as conexões impuras que os
judeus mantiveram com os gentios durante a diáspora, numa tentativa de melhorar
seu padrão de vida e reduzir suas aflições. Eventualmente, quando os judeus
forem vistos na Grande Tribulação (em seus últimos dias), essas pressões e
sofrimentos chegarão a um ponto tal que um remanescente finalmente será levado
ao arrependimento. Isto é ilustrado pelo filho que cai em si e volta para seu
pai. O remanescente de judeus arrependidos será perdoado e recebido pelo Senhor
naquele dia futuro, e eles serão abençoados no reino quando este for
estabelecido em poder.
O “filho mais velho” representa uma classe
dentre os judeus que exteriormente e na sua profissão religiosa não se
distanciou do Pai (Lc 15:25-31). Ao longo da história eles têm sido conhecidos
por se manterem separados dos gentios, mas infelizmente não têm qualquer fé ou
amor pelo Senhor Jesus Cristo. Foi a essa classe de judeus que o Senhor se
referiu, quando disse: “Este povo se
aproxima de mim com a sua boca e me honra com os seus lábios, mas o seu coração
está longe de mim. Mas, em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos
dos homens.” (Mt 15:8-9). Aqueles eram os escribas e fariseus daqueles
dias, mas formam uma “geração” de
judeus que continuou até os dias de hoje (Mt 12:42). Eles pertencem à mesma
classe de judeus apóstatas que nos últimos dias irá receber o Anticristo.
Quando o pai soube
que o filho mais velho não iria entrar e participar das festividades que o
filho mais novo desfrutava, fez uma súplica especial a ele, mas todos os seus
esforços para atrair o filho mais velho foram rejeitados. Seu pai lhe disse: “Todas as minhas coisas são tuas” (Lc
15:31). No que se refere a bênçãos terrenas, Deus teria dado aos judeus tudo o
que fora prometido à nação no Antigo Testamento, mas eles não quiseram receber
nas condições estabelecidas por Deus: receber o Senhor Jesus Cristo como seu
Messias. Por isso aqueles judeus incrédulos serão deixados do lado de fora
quando o reino de Cristo começar de forma manifesta e em poder.
Traduzido de “A Dispensational or a Covenantal Interpretation of Scripture - Which is the Truth?”, por Bruce Anstey publicado por Christian Truth Publishing. Traduzido por Mario Persona.