A insistência dos
líderes da nação em encontrarem alguma falta no Senhor provava que seus
corações estavam determinados a rejeitá-Lo como Messias de Israel (vers. 1-2).
Eles consideraram uma ofensa Ele e Seus discípulos não lavarem as mãos, pois estariam
transgredindo “a tradição dos anciãos”,
que eram meros ensinos rabínicos que eles próprios tinham inventado, e não
determinações bíblicas como as existentes na Lei de Moisés. Contrapondo suas
tradições humanas o Senhor lhes perguntou a razão de transgredirem “o mandamento de Deus” — a verdade das
Escrituras (vers. 3-6). Ao fazer tal pergunta o Senhor mostrava o quanto os
judeus haviam se afastado da verdade da Palavra de Deus. Eles eram meticulosos
em guardar suas próprias regras e regulamentos criados por homens, mas não
tinham escrúpulos em transgredir a Lei de Deus!
Sendo assim o
Senhor repreendeu a hipocrisia dos fariseus (vers. 7-9) e em seguida apresentou
à multidão a verdade acerca do lavar (vers. 10-11). Ele também informou Seus
discípulos de que já que aqueles líderes que representavam a nação não tinham
sido “plantados” por Deus, eles
seriam “arrancados” e perderiam seu
lugar de privilégio (vers. 12-13). Isso apontava para o tempo em que a nação
seria colocada de lado. Enquanto isso o Senhor chamava Seus discípulos para se
separarem deles, dizendo, “deixai-os”
(vers. 14).
Considerando que o
ensino do Senhor era tão contrário a tudo o que eles tinham ouvido até ali,
Pedro pede uma explicação (vers. 15-20). O Senhor aproveitou a oportunidade
para ensinar Seus discípulos que era o coração do homem, e não suas mãos, que
necessitava ser limpo, pois estava cheio de pecado e corrupção.
Depois de declarar
a verdade, o Senhor partiu dali e “foi
para as partes de Tiro e de Sidom.” (vers. 21). “Tiro e Sidom” eram regiões habitadas pelos gentios (Atos 21:3). O
Senhor não foi propriamente àquele território, mas “para as partes de Tiro e de Sidom”, isto é, aos seus arredores
(conforme comenta J. N. Darby em nota em sua tradução da Bíblia). Mais uma vez
esta era uma ação simbólica que indicava que o Senhor iria deixar de ministrar
a Israel e se voltaria para os gentios. Isso se deu no ponto mais extremo da
terra em relação a Jerusalém, a cerca de 160 a 200 quilômetros de distância
daquela cidade, e sugere que a vocação presente do evangelho para o mundo
gentio seria levada, seu caráter (que é celestial) o mais distante possível das
tratativas terrenas feitas por Deus para com Israel.
Diante da
incredulidade dos judeus (vers. 1-20) somos apresentados à fé de uma mulher
gentia (vers. 21-28). Que revigorante contraste! Uma “mulher cananeia” (povo que havia sido destinado à total destruição
em Deuteronômio 7:1-2) aproximou-se do Senhor por fé e recebeu uma bênção! Sob
a Lei aquele povo era para ter sido destruído, mas sob a graça há salvação para
eles! Ao escrever o Evangelho de Mateus o Espírito de Deus coloca estes eventos
em ordem para indicar como Deus faria para alcançar os gentios quando Cristo
fosse rejeitado por Seu povo (Atos 15:14).
Em sua ignorância
a mulher assumiu uma posição judaica na tentativa de obter bênção, ao identificar
o Senhor como “filho de Davi” (vers.
22-24). Mas enquanto estava nesse terreno o Senhor “não lhe respondeu palavra”. Existe também aí uma lição simbólica.
O Senhor estava indicando que a bênção já não seria dada com base no judaísmo,
pois a “religião dos judeus” (Gl 1:14
- Versão King James) seria logo colocada de lado quando o evangelho da graça de
Deus fosse levado aos gentios (Os 3:4). Portanto, todo aquele que quisesse se
aproximar de Deus nessa perspectiva do judaísmo não seria recebido. Quando
Israel for restaurado no futuro (quando buscarem a “Davi, seu Rei”, conforme Oséias 3:5), eles serão abençoados pela
fé sobre um terreno judaico. Isso incluirá gentios que “abraçarem” a Nova Aliança (Is 56:3-8). No momento atual o sistema
judaico não é um meio pelo qual Deus abençoe os homens.
A fé da mulher não
se deu por vencida, por isso ela clamou, “Senhor,
socorre-me!” (vers. 25-28). Sobre esse terreno havia bênção, pois as
Escrituras afirmam: “Porquanto não há
diferença entre judeu e grego; porque um mesmo é o Senhor de todos, rico para
com todos os que o invocam. Porque todo aquele que invocar o nome do Senhor
será salvo.” (Rm 10:12-13). “Todo aquele” inclui os gentios.
Consequentemente, o Senhor elogiou sua fé, dizendo: “Grande é a tua fé! Seja isso feito para contigo como tu desejas.”
(Mt 15:28).
Depois disso o
Senhor retornou à terra de Israel (“ao pé
do mar da Galileia”) onde abençoou as multidões que se aproximaram dele
(vers. 29-31). A bênção foi ministrada de quatro maneiras: aos “cochos”, “cegos”, “mudos” e “aleijados”, tendo sido todos curados. O
número quatro nas Escrituras tem o sentido de universal (por exemplo, “desde os quatro ventos, de uma à outra
extremidade dos céus” em Mateus 24:31, “os
quatro cantos da terra” em Apocalipse 71, etc.). A cura que sai em todas as
quatro direções representa a bênção de caráter mundial que haverá durante o
Milênio.
Naquele mesmo
lugar o Senhor também alimentou uma companhia de “quatro mil” (vers. 32-39). Mais uma vez o número “quatro” é usado e aponta para a bênção
universal. O Senhor usou “sete” pães
para alimentar a multidão, e sobraram “sete”
cestos. A palavra “cesto” aqui é “spuris” no original e indica um
recipiente bem maior que o “cesto” de
Mt 14:20, que no original é “kophinos”,
um cesto pequeno. Nas Escrituras o número sete representa a perfeição e indica
que haverá perfeição na bênção derramada sob o reinado de Cristo durante o
Milênio. Portanto, haverá saúde, prosperidade e bênção espiritual para todo o
mundo durante o reinado público de Cristo.
Traduzido de “A Dispensational or a Covenantal Interpretation of Scripture - Which is the Truth?”, por Bruce Anstey publicado por Christian Truth Publishing. Traduzido por Mario Persona.