Naquele lugar de
desterro o Senhor “curou os seus enfermos”.
Isso dava testemunho ao fato de que Deus havia realmente visitado o Seu povo na
Pessoa do Messias, pois as Escrituras afirmam claramente que quando Ele viesse
para estabelecer o Seu reino as curas generalizadas seriam um de seus feitos
notórios a todos (Sl 103:3; Is 33:22-24; 35:1-7). Outra característica notável
do reino do Messias como é apresentado no Antigo Testamento é que ninguém seria
pobre ou passaria fome. Ele fartaria “de
pão os seus necessitados” e seria aquele que “que dá pão aos famintos” (Sl 132:15; Sl 146:7; Am 9:13). O Senhor
demonstrou isto ao alimentar os cinco mil que estavam com ele no deserto,
confirmando assim que Ele tinha poder para estabelecer o reino conforme
prometido pelos Profetas (vers. 15-21). Portanto, durante o ministério terreno
do Senhor eles “provaram a boa palavra de
Deus, e as virtudes do século futuro” (Hb 6:5). Foi dado a eles uma amostra
das coisas que caracterizariam o reino, caso eles O recebessem.
Todavia, esta
passagem de Mateus 14 não registra qualquer indício de que o povo apreciasse o
que o Senhor tinha feito, e tampouco houve qualquer reconhecimento de que Ele
seria verdadeiramente o Messias de Israel. A narrativa nada fala neste sentido,
ilustrando assim a infidelidade da nação e sua recusa em reconhecê-Lo como o
Messias deles. Foram recolhidas “doze
alcofas cheias” como uma abundância que seria guardada para ser usada no
futuro (vers. 20). Isto sugere que o Senhor ainda não tinha desistido da nação
de Israel. Aquilo que abundou seria usado no futuro quando Ele voltasse para
tratar com o remanescente crente; naquele dia haveria um cesto da bênção de
Deus para cada uma das doze tribos.
Por não existir
qualquer reação da parte do povo naquela ocasião o Senhor dispensou a multidão
(vers. 22-23). Isto ilustra o endurecimento de suas relações com a nação que
seria temporariamente deixada de lado. Os doze apóstolos foram então colocados
no “barco” e enviados “para o outro lado” do mar. Isto
significava uma nova abordagem de Deus no testemunho cristão do tempo presente.
O barco sendo enviado através do mar é uma figura do testemunho cristão saindo
em meio aos gentios (At 15:14). Os apóstolos que entrarem no barco representam
o remanescente crente de judeus que foram tirados do judaísmo e introduzidos na
Igreja (At 2:41; 4:4; 5:14; 6:7; Rm 11:5; Gl 6:16). Enquanto isso o Senhor “subiu ao monte para orar, à parte”.
Isto significa a ascensão do Senhor à glória para assumir Sua atual função de
Sumo Sacerdote em oração intercessora a favor daqueles que são Seus neste mundo
(Rm 8:34; 7:25).
A jornada dos
discípulos no barco até o outro lado foi feita à noite (vers. 24-25). Isto
corresponde ao fato de os homens maus terem expulsado o Senhor, que é “a luz do mundo” (Jo 9:4-5) deixando
este mundo em um estado de trevas morais e espirituais. Além disso, durante o
tempo da ausência do Senhor, longe de Seus discípulos, uma grande tempestade se
abateu sobre o barco. Isto fala da tentativa de Satanás de destruir o
testemunho cristão. O “vento”, que “era contrário”, aponta para o fato de
que Satanás bombardearia a Igreja com más doutrinas (Ef 4:14; 2 Pe 2:1).
Todavia, perto do fim da jornada, “à
quarta vigília da noite”, a qual se estende até o amanhecer, os discípulos
viram o Senhor vindo em direção a eles! (vers. 25:26). Isto aponta para o
despertamento ocorrido no testemunho cristão nestes últimos dias. Há cerca de
180 anos o mundo cristão tomou consciência da realidade de que o Senhor estava
para voltar em breve. A verdade do Arrebatamento foi recuperada naquela
ocasião. A iminência disso cativou a muitos, fazendo com que deixassem de lado
os interesses e bens mundanos para servirem o Senhor com propósito de coração.
Isto tem sido chamado de “clamor da meia
noite” (Mt 25:6).
Pedro ficou tão
impressionado com a vinda do Senhor em direção a eles que saiu do barco para ir
ao encontro do Senhor (vers. 28-29). Isto é uma figura do testemunho
remanescente que se formou naquela ocasião (no século 19). Cristãos de várias
denominações saíram de suas associações denominacionais formais e começaram a
congregar ao nome do Senhor Jesus somente; eles não tinham o suporte de
qualquer sistema religioso, mas confiavam simplesmente no Espírito de Deus em
todas as questões concernentes à adoração e ao ministério da Palavra. No que
diz respeito a estas coisas, eles trilharam o caminho que só pode ser trilhado
por fé.
Mas Pedro tirou
seus olhos do Senhor e começou a olhar para as ondas, passando a afundar (vers.
30). Se Pedro, ao caminhar sobre as águas, representa os primeiros dias do
testemunho remanescente do século 19, Pedro afundando nas águas representa
estes últimos dias. O problema foi que Pedro estava tentando fazer algo que ele
já estava fazendo, porém sem olhar para o Senhor — e tal coisa não poderia ser
feita. De igual modo irmãos em nossos dias estão aprendendo que não são capazes
de seguir em frente na condição de um testemunho remanescente (isto é, fazendo o
que os irmãos fizeram no passado) sem a energia espiritual e a fé que eles
tinham. Todavia, quando Pedro começou a afundar ele fez a coisa certa ao
clamar: “Senhor, salva-me!” (vers.
30). Isso é tudo que podemos fazer hoje — precisamos coletivamente clamar ao
Senhor para salvar o testemunho dos santos congregados ao Seu nome (Mt 18:20).
A única coisa encorajadora a respeito do afundamento de Pedro e de ter pedido
por socorro ao Senhor é que imediatamente o Senhor encontrou-Se com os
discípulos e a jornada chegou a fim! (vers. 31-33). Quando vemos as coisas
afundando é um sinal de que a volta do Senhor está próxima. Possamos, portanto,
ficar encorajados com isso.
Ao chegarem ao
outro lado do lago vemos uma cena de bênção generalizada na terra de Genesaré.
Trata-se de uma figura da bênção milenial que ocorrerá após a Igreja ter
terminado seu curso neste mundo e um remanescente de Israel ter sido restaurado
ao Senhor. “Os homens daquele lugar o
conheceram” (vers. 34-36). Isto aponta para o fato de que no dia milenial “a terra se encherá do conhecimento do Senhor”
(Is 11:9). Além disso, Israel sob a Nova Aliança terá um conhecimento íntimo do
Senhor. “E não ensinará mais cada um a
seu próximo, nem cada um a seu irmão, dizendo: Conhecei ao Senhor; porque todos
me conhecerão, desde o menor até ao maior deles, diz o Senhor” (Jr 31:34). Todos na terra de Genesaré foram
abençoados. “Trouxeram-lhe todos os que
estavam enfermos... e todos os que tocavam [o Senhor] ficavam sãos” (vers.
36).
Traduzido de “A Dispensational or a Covenantal Interpretation of Scripture - Which is the Truth?”, por Bruce Anstey publicado por Christian Truth Publishing. Traduzido por Mario Persona.