JOÃO 10
Este capítulo enfatiza outro aspecto
da transição do Judaísmo para o Cristianismo e enfoca o novo princípio sobre o
qual Deus iria reunir o Seu povo.
O
Senhor anunciou que iria tirar Suas ovelhas (os crentes judeus) para fora do “curral” judaico e trazê-las para a
gloriosa liberdade de Seu “rebanho”
no Cristianismo (Jo 10:16). O curral e o rebanho representam dois princípios de
reunião completamente distintos. Ambos mantêm as ovelhas reunidas, mas de maneiras
totalmente diferentes. Um curral ou aprisco é uma circunferência sem um centro,
enquanto um rebanho é um centro sem uma circunferência. Em um curral as ovelhas
são mantidas juntas pela cerca que as circunda, o que nos fala dos princípios
restritivos do sistema legalista da antiga dispensação, que mantinha os
israelitas juntos em uma posição de separação das nações que os cercavam. Em um
rebanho não há necessidade de uma cerca, pois o Pastor no meio das ovelhas
exerce atração sobre elas, que por sua vez são atraídas por Ele. Portanto as
ovelhas são mantidas juntas, mas sobre um princípio completamente diferente.
Isso revela o princípio de reunião no Cristianismo (Mt 18:20). Os cristãos
nesta nova ordem de coisas se reúnem para adoração e ministério, não por serem
forçados a isso, mas por desejarem estar onde Cristo está no meio.
Uma
vez que os judeus naturalmente iriam se sentir ofendidos caso alguém entrasse
em seu curral e levasse algumas ovelhas para fora, o Senhor declarou que quem
fizesse isso precisaria ter a qualificação necessária. Ele reconheceu que
alguns impostores (“ladrões e salteadores”)
poderiam aparecer sem que tivessem as qualificações ordenadas por Deus, mas
Suas ovelhas não os seguiriam, “porque
não conhecem a voz dos estranhos” (Jo 10:1, 5). Exemplos disso foram “Teudas” e “Judas” (At 5:36-37).
Todavia,
o Senhor veio do modo designado por Deus, o que ele chama de “porta” (Jo 10:2). A porta que dá
entrada ao curral, pela qual o Messias deve entrar, é caracterizada pelos
profetas do Antigo Testamento.
- O tempo de Sua vinda (Dn 9:26 e Sl 102:24).
- O lugar de Sua entrada no mundo (Mq 5:2).
- Seu nascimento virginal (Is 7:14).
- O anúncio de Sua vinda (Is 40:3; Ml 3:1).
- Seu modo de vida (Is 53:3).
- O caráter do Seu ministério (Is 42:1-3).
- Sua capacidade de demonstrar “os poderes do mundo vindouro” (Hb 6:5; Lc 7:22; Is 33:24; 35:5-6; Sl 65:6-7; 89-9; 132:15; 146:7-8).
- Sua apresentação à nação (Zc 9:9).
O
Senhor entrou no curral do Judaísmo (o sistema judaico instituído por Deus por
intermédio de Moisés) exatamente em conformidade com estas especificações. Não
havia como não perceber que Ele era o Messias de Israel — “o Pastor das ovelhas” (Sl 23:1; 77:15; 78:67; 80:1; 95:7; 100:3;
Is 40:11; Ez 34:31; Zc 11:7-9; 13:7). O Espírito de Deus (“o Porteiro”) Se identificou totalmente com o Senhor, descendo do
céu sobre Ele na forma de uma pomba (Jo 1:32-34; 6:27; 1 Tm 3:16) e habitando
nEle. Assim o Espírito deu testemunho de que o Senhor Jesus era realmente o
verdadeiro Pastor de Israel, pois “a Este
o porteiro abre” (Jo 10:3). Portanto, o Senhor, sendo Quem ele era, tinha o
direito de introduzir esta mudança dispensacional.
O
trabalho do Senhor no curral, que acabou sendo rejeitado (Jo 1:11), era o de atrair
o coração das ovelhas a Si, chamando-as “pelo
nome” (o que nos fala de intimidade) e guiando-as para fora dali (Jo 10:3).
Ao guiar aqueles que eram Seus para fora o Senhor indicava que estava prestes a
abandonar toda aquela ordem de culto religioso e levar Suas ovelhas Consigo. Hebreus
13:13 nos diz que Sua atual posição no Cristianismo é “fora do arraial” do Judaísmo — para onde os crentes são também exortados
a saírem. O Senhor mencionou que iria usar outros meios de tirar os Seus do
curral do Judaísmo — Ele “tira para fora
as suas ovelhas” (Jo 10:4). Isso mostra pressão; elas são empurradas para
fora. O cego do capítulo anterior teve essa experiência. Ele foi “expulso” do curral; os líderes da nação
“expulsaram-no” (Jo 9:34). De uma
maneira ou de outra o Senhor estava trabalhando com Suas ovelhas e elas estavam
sendo tiradas do curral do Judaísmo para as coisas melhores do Cristianismo.
Aqueles
que escutaram esta alegoria não entenderam seu significado (Jo 10:6). A razão é
que eles continuavam no curral judaico e existe certo torpor que é consequência
de estar naquele sistema (Hb 5:11). Isso levou o Senhor a falar de uma segunda “porta”. Ele disse: “Em verdade, em verdade vos digo que eu sou
a porta das ovelhas” (Jo 10:7). Ele era a porta de libertação pela qual uma
pessoa era trazida para fora do curral do Judaísmo. Ao fazer tal declaração Ele
dava a cada judeu crente a garantia de ser tirado do Judaísmo. Antes disso
nenhum judeu tinha permissão para abandonar aquela religião ordenada por Deus,
mas agora o próprio Deus, na Pessoa do Filho, estava abrindo a porta e
garantindo que fossem libertos daquele sistema.
O
Senhor falou então de uma terceira “porta”.
Trata-se da porta de entrada na bênção e privilégio cristãos. A entrada a essas
coisas também seria por meio dEle. Ele disse: “Eu sou a porta; se alguém entrar por mim, salvar-se-á, e entrará, e
sairá, e achará pastagens” (Jo 10:9). Estas bênçãos e privilégios
característicos do Cristianismo são:
- A salvação da alma (Jo 10:9a).
- A liberdade para a adoração e o serviço — “entrará e sairá” (Jo 10:9b).
- O alimento espiritual na revelação cristã da verdade — “pastagens” (Jo 10:9c).
- O desfrutar de “vida... com abundância” — a vida eterna (Jo 10:10).
- A proteção e cuidado do Pastor (Jo 10:10-15).
- A união de judeus e gentios em “um rebanho” (Jo 10:16).
- A segurança eterna — “nunca hão de perecer” (Jo 10:28-29).
Versículos
10-15 — Uma vez libertadas dos limites do Judaísmo, as ovelhas ficariam sem a
proteção do curral, mas isto não significa que Suas ovelhas ficariam sem
proteção. O Senhor prometeu que Suas ovelhas, que Ele guiou para fora do
curral, seriam cuidadas e protegidas. Como “Bom
Pastor” Ele as colocaria sob o Seu divino cuidado. Seu amor e devoção pelo
rebanho eram tais que Ele daria Sua vida pelas ovelhas. O Senhor então menciona
os pastores mercenários e falsos profetas que atribulam o rebanho. Esses maus
obreiros surgiriam no Cristianismo professo se alimentariam dos cristãos e iriam
desviá-los. Um “mercenário” é um
pastor relapso que irá abandonar o rebanho quando vier o perigo, e um “lobo” (Mt 7:15) é o que irá dividir e
espalhar as ovelhas para atender seus interesses pessoais (At 20:29-30). Basta
olharmos para a cristandade hoje para vermos isto acontecendo. Muitos líderes estão
agindo como “mercenários” e
transformando o culto a Deus em negócio (“mercadejando
a palavra de Deus” 2 Co 1:17 — RAA). Existem também os “falsos doutores” com caráter de “lobos” (2 Pe 2:1). O Senhor não oculta o fato de que as Suas
ovelhas seriam provadas por tais pessoas na esfera cristã, mas no verdadeiro Cristianismo,
onde Cristo está no meio do Seu rebanho, Ele iria protegê-las de todos esses
assaltos.
Versículo
16 — O Senhor possuía “outras ovelhas”
que Ele iria reunir. Não há qualquer menção de que estas seriam tiradas para
fora do curral, portanto isso indica que Ele estaria falando de crentes
gentios. Estes, juntamente com Suas ovelhas tiradas do curral, formariam “um rebanho” de crentes judeus e
gentios.
Portanto,
as três portas nesta passagem indicam
uma mudança dispensacional:
- A porta da profecia concernente ao Messias, por meio da qual Cristo entrou no curral judaico (Jo 10:2).
- A porta da libertação para fora do Judaísmo, através da qual Cristo levou os Seus para fora do curral (Jo 10:7).
- A porta de entrada nas bênçãos e privilégios do Cristianismo através da qual as ovelhas de Cristo podem viver e servir a Deus (Jo 10:9).
Traduzido de “A Dispensational or a Covenantal Interpretation of Scripture - Which is the Truth?”, por Bruce Anstey publicado por Christian Truth Publishing. Traduzido por Mario Persona.