Um chamado especial de crentes para formarem a Igreja
Primeiro
ele diz: “que os gentios são co-herdeiros”
nessa coisa nova que Deus está edificando — a Igreja. Outra tradução mais
correta diz que “os pagãos são chamados a
participar da mesma herança”, indicando existir um chamado especial para
tirar, de entre as nações, os crentes que Deus predestinou para compartilharem
de um lugar juntamente com Cristo neste algo novo — a Igreja. Este chamado de
Deus não está trazendo das nações
gentias multidões para Jeová, como foi anunciado no Antigo Testamento para
virem a ter um lugar no reinado do Messias sob Israel (Zc 2:11; 8:22-23; Is
11:10; 14:1; 56:3-7; 60:1-5; Sl 22:27; 47:9; 72:10-11). O chamado ainda futuro
irá resultar numa conversão exterior das nações gentias, o que acontecerá
quando forem a Cristo em Sua glória no reino. Elas farão aliança com o Deus de
Israel por medo de serem julgadas; não será necessariamente uma obra de fé em
seus corações (Sl 18:44-47; 66:1-3; 68:28-31; Is 60:14), apesar de que muitos dos
gentios entre eles irão sinceramente crer (Ap 7:9-10).
Essa
convocação é vista também em Atos 15:3, onde fala da “conversão dos gentios” ou, literalmente, “conversão daqueles dentre as
nações”. Como já foi mencionado, não se trata da conversão das nações
gentias como um todo — o que ocorrerá no futuro — mas de um chamado especial
feito pelo evangelho por meio do qual um seleto número de pessoas de entre os
gentios é chamado para fora. Isto é mais uma vez declarado em Atos 15:14, que menciona
“como primeiramente Deus visitou os
gentios, para tomar deles [dentre eles] um povo para o Seu nome”.
Esta
obra especial de Deus por meio do evangelho também envolve o chamado de alguns
judeus para fora da nação de Israel para fazer parte deste algo novo — a Igreja.
Deus está tirando determinados judeus para
fora de seu lugar de origem na nação de Israel e os colocando na Igreja.
Paulo era um exemplo disto. O Senhor lhe disse: “Livrando-te deste povo [Israel]...”, ou, literalmente, “livrando-te de entre o povo [Israel]” (At 26:17).
Judeus
e gentios, como entidades distintas, continuam existindo na terra enquanto o
chamado do evangelho segue sendo feito hoje, e eles continuarão a existir no
futuro como grupos separados. Mas agora, como consequência do evangelho, uma
terceira entidade tem sido formada — a Igreja de Deus. Esta coisa nova é bem
distinta e completamente separada das duas outras, e não deve ser confundida
com elas. Esta distinção foi claramente assinalada pelo apóstolo Paulo, ao
dizer: “Portai-vos de modo que não deis
escândalo nem aos judeus, nem aos gregos [gentios], nem à igreja de Deus” (1 Co 10:32).
Portanto,
na atual dispensação da Graça, Deus está chamando crentes judeus e gentios para
fora de suas antigas posições e
formando assim algo novo — a Igreja. O próprio significado da palavra Igreja (“Eclésia”
em grego) é “chamados para fora” e
expressa muito bem este chamado especial de Deus por meio do evangelho. Crentes
tirados de entre judeus e gentios agora esperam
em Cristo (Ef 1:12-13), antes daquele dia futuro, quando uma multidão formada
por um remanescente de Israel e pelas nações gentias, será levada maciçamente a
Deus.
Em
segundo lugar, Efésios 3:6 também indica que crentes de entre os gentios
formariam “um mesmo corpo” com
crentes tirados de entre os judeus. Portanto, o Mistério revela que judeus e gentios que creem no evangelho são
transformados em um organismo vivo (“um
mesmo corpo”) que funciona para a satisfação de Deus e no qual a própria
vida e características morais do Filho de Deus são manifestadas (Cl 1:26-27). A
“parede de separação que estava no meio”,
entre judeus e gentios, foi agora derrubada na Igreja. Ambos são abençoados de
maneira igual em um lugar inteiramente novo diante de Deus, “em Cristo” (Ef 2:14-16). Este “um só corpo” é o resultado do Espírito
de Deus habitando nesses crentes e unindo-os a Cristo, “a Cabeça” nos céus (1 Co 12:13; Ef 1:22-23; Cl 1:18). A descida do
Espírito Santo no mundo para formar e habitar no corpo de Cristo é chamada de “batismo do Espírito” (Mt 3:11; Mc 1:8;
Lc 3:16; Jo 1:33; At 1:5; 11:16; 1 Co 12:13). Este foi um ato corporativo que
aconteceu no dia de Pentecostes para os judeus que creram (At 2), e mais tarde
na casa de Cornélio para introduzir os gentios (At 10). Assim o batismo do
Espírito foi completado.
Ao
contrário do que muitos cristãos evangélicos imaginam os crentes não passam a fazer parte do corpo de Cristo
pelo batismo do Espírito — já que a obra do Espírito em batizar foi completada
em Atos 2 e Atos 10. Repare com atenção que 1 Coríntios 12:13 diz que “todos nós fomos batizados em um Espírito, formando um corpo, quer judeus, quer
gregos...”, significando que o batismo foi o que formou este “um corpo”. O Espírito de Deus tomou os
crentes que estavam naquele cenáculo no dia de Pentecostes e os uniu a Cristo,
a Cabeça do corpo nos céus, pelo fato de habitar neles.
J.
N. Darby observa que a ação do Espírito ao batizar em 1 Coríntios 12:13 está no
tempo aorista do grego, que tem o
significado de algo feito de uma vez para sempre. Isto demonstra que desde
então o Espírito não está mais executando essa ação, simplesmente porque a obra
de formação do corpo já foi feita. Se o Espírito estivesse batizando hoje, isto
significaria que Ele estaria formando cada vez mais corpos. Algo assim não
poderia acontecer, pois o Espírito nos diz enfaticamente que “há um só corpo” (Ef 4:4). Mas, se assim
é, como poderia Paulo falar de si mesmo e dos Coríntios como sendo batizados
pelo Espírito? Eles nem sequer estavam salvos quando o Espírito desceu no dia
de Pentecostes. A resposta é que Paulo estava falando de todos os membros do
corpo em seu sentido representativo.
Ele disse: “Todos nós [os cristãos
como um todo] fomos batizados em um
Espírito, formando um corpo” — referindo-se à ação passada do Espírito no
dia de Pentecostes e na casa de Cornélio.
Isto
é semelhante à incorporação de uma companhia. Ela é incorporada apenas uma vez
e, depois disso, cada vez que a companhia contrata um novo funcionário ela não
é incorporada outra vez. O novo funcionário é meramente adicionado a uma
companhia já incorporada. Do mesmo modo, quando alguém hoje é salvo, ele é
acrescentado, pela presença do Espírito em si (“selados” - Ef 1:13) a um corpo já batizado. Não existe um novo
batismo para a companhia cristã cada vez que um novo crente é acrescentado ao
corpo de Cristo.
Para
ampliar um pouco mais o exemplo, suponha que tenhamos participado de uma das
reuniões da diretoria daquela companhia e escutado um dos diretores dizer: “Fomos incorporados há cem anos”. Não
teríamos qualquer dificuldade em entender o que ele quis dizer. Ninguém diria: “O que você está dizendo? Nenhum de nós
nesta sala tem mais de 60 anos; como você pode dizer que fomos incorporados há
cem anos?” Todos nós saberíamos que o diretor estava falando no sentido representativo da companhia. Do mesmo
modo, em 1 Coríntios 12:13 Paulo falava daquilo que era verdadeiro a respeito
do corpo de Cristo, do qual ele e os Coríntios faziam parte.
O
Antigo Testamento revela que, em Seu reino, Cristo irá reinar sobre Israel e
sobre as nações gentias na terra (Sl 93:1; Is 32:1), mas as Escrituras nunca
dizem que Ele reina sobre a Igreja, que é o Seu corpo. Este corpo celestial
unido a Cristo pela habitação do Espírito é uma criação inteiramente nova de
Deus (Ef 2:10) e desfruta de um relacionamento especial com Cristo como Sua
noiva e esposa (Ap 19:7; 21:9).
Um
terceiro ponto que Efésios 3:6 indica é que esta companhia de judeus e gentios
escolhidos são “co-herdeiros, de um mesmo
corpo e participantes da promessa em Cristo”. Esta promessa não é uma
referência às que Deus fez aos patriarcas nos tempos do Antigo Testamento. As
promessas a Abraão, Isaque e Jacó foram feitas durante o tempo de vida deles,
mas esta promessa foi feita antes da fundação do mundo. Trata-se da promessa da
“vida eterna”, a qual o Pai fez ao
Filho “antes dos tempos dos séculos”
(2 Tm 1:9; Tt 1:2). Ele prometeu a Seu Filho que existiram aqueles redimidos
por graça, que seriam introduzidos na vida e comunhão que Eles próprios
desfrutavam desde a eternidade. Esta é uma bênção distintamente pertencente ao
Novo Testamento (Tt 1:2).
Portanto,
aprendemos destas três coisas em
Efésios 3:6 que o atual chamado de Deus pelo evangelho de Sua graça é algo
totalmente diferente daquilo que foi anunciado nas Escrituras do Antigo
Testamento a respeito do propósito de Deus em abençoar Israel e as nações
gentias sob Israel.
Quanto
mais estudarmos as diferenças entre as distintas maneiras de Deus tratar com
Israel e com a Igreja, mais descobriremos que são coisas tão diferentes quanto
giz e queijo. A verdade é que não poderiam existir duas coisas mais distintas,
e as características que apresentaremos a seguir confirmam isto.
Traduzido de “A Dispensational or a Covenantal Interpretation of Scripture - Which is the Truth?”, por Bruce Anstey publicado por Christian Truth Publishing. Traduzido por Mario Persona.